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Cólica do lactente

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Sim. A principal manifestação da cólica do lactente é o choro inconsolável. No entanto, é importante destacar que o choro faz parte do desenvolvimento neurológico e comportamental do lactente e pode ser ocasionado por outros fatores, como frio, calor, fraldas que necessitam de troca e fome, ou seja, situações normais no cotidiano da família.

Quando o choro não desaparece após as outras causas serem descartadas pode ser cólica do lactente. Isto é, se a criança para de chorar após receber alimentos ou trocar as fraldas é sinal de que não era cólica a causa de sua reação. Mas atenção: nem todo choro inconsolável é cólica do lactente. Assim, se essa situação permanecer, o pediatra deve ser consultado para avaliar cada criança e fazer o diagnóstico correto do problema.

Há mais de 50 anos existe uma definição de cólica do lactente que leva em consideração a ocorrência de choro inconsolável e/ou inquietação e/ou irritabilidade por pelo menos três horas, em três dias da semana e com duração superior a três semanas (a chamada “regra dos 3“). Em geral, a cólica do lactente desaparece antes dos quatro meses de vida. Antigamente, muitos diziam que a cólica era parte do desenvolvimento normal da criança e não necessitava de nenhum tipo de atenção específica. No entanto, além do sofrimento que ocasiona no bebe, a cólica do lactente pode se associar com muita ansiedade nos pais e redução na qualidade de vida da família.

A prevalência da cólica é variável nos diferentes inquéritos da literatura (entre 6% e 30%). Entretanto, uma taxa maior de lactentes apresenta cólica segundo a percepção de suas mães. Neste contexto, recentemente, um grupo de especialistas recomendou a ampliação da definição de cólica, mesmo quando a duração diária do choro seja menor do que três horas por dia e, também, não se exige a duração do sintoma por pelo menos três semanas. 

Não se conhece com a exatidão as causas da cólica. Acredita-se que estejam envolvidos na sua geração fatores ligados ao ambiente, incluindo o status biopsicossocial da família. Também podem influenciar seu aparecimento a imaturidade do sistema nervoso central, intolerância à lactose, anormalidades em hormônios gastrintestinais, alteração da motilidade e na colonização do intestino. O caráter autolimitado da cólica, ou seja, seu desaparecimento espontâneo sugere que a cólica do lactente pode sofrer grande influência do desenvolvimento do tubo digestivo ao longo dos primeiros meses de vida.

Com relação à alimentação, a cólica do lactente pode ocorrer tanto em crianças que recebem leite materno como única fonte de alimento ou naquelas alimentadas com mamadeiras. Estudo realizado no Brasil mostrou que crianças que não recebem leite materno tem quase o dobro de risco de apresentar cólica do lactente. Na prática, constata-se que a cólica do lactente pode ser o motivo de inúmeras e injustificadas trocas nos tipos de fórmulas lácteas oferecidas ao lactente. Nunca deve ser interrompido o aleitamento natural exclusivo para reduzir cólica do lactente.

Raramente o lactente pode ter cólica ocasionada por alergia à proteína do leite de vaca (APLV). Estes casos podem ocorrer quando o bebe é alimentado com mamadeira ou mesmo quando se encontra em aleitamento natural exclusivo. Esses bebes melhoram quando a mãe que amamenta deixa de consumir alimentos com proteínas do leite de vaca (leite, derivados do leite, alimentos preparados com leite).

Se ao retirar a exposição da criança ao leite de vaca a cólica parou é sempre interessante tentar verificar o sucesso da dieta de exclusão como responsável pelo controle do problema. Para tanto, após o controle da cólica, deve ser reintroduzida a proteína do leite de vaca na dieta da mãe. Outros alimentos que a mãe consome na esmagadora maioria das vezes não está envolvida com a cólica do lactente. Assim, não se justifica a exclusão de outros alimentos da dieta da mãe. As crianças que não recebem mais leite materno deverão receber uma fórmula especial conforme recomendação do Pediatra.

Muitas vezes considera-se que o choro excessivo possa ser causado por refluxo gastroesofágico (oculto ou com regurgitações). Várias pesquisas comprovaram que o tratamento do refluxo gastroesofágico não reduz a duração do choro.

Considerando-se que a colonização do tubo digestivo é diferente nas crianças com cólica, vem sendo investigado o papel dos probióticos no seu tratamento. Até o presente, foi demonstrado que apenas um tipo específico de probiótico (não todos) pode reduzir a duração diária do choro e acelerar a resolução da cólica do lactente. 

Há uma série de dicas simples que podem ser adotadas em casa. No geral, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio do seu Departamento Científico de Gastroenterologia Pediatrica, faz as seguintes recomendações que podem ser uteis para o controle da cólica do lactente:
1)Pegar o bebê no colo (pode ser tentado o contato direto da barriga do bebê com a barriga da mãe); 
2) Enrolar o bebê em uma manta ou cobertor;
3) Flexionar as coxas do bebê sobre a barriga;
4) Dar um banho morno ou aplicar compressas na barriga podem auxiliar na redução da cólica/choro no lactente;
5) Reduzir estímulos para o bebê (evitar locais com muito barulho ou excesso de pessoas);
6) Procurar um ambiente tranquilo, podendo ser usada música ambiente suave; 
7) Tentar estabelecer uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades;
8) Não utilizar chás, trocar marcas de leite ou usar medicamentos sem a orientação do Pediatra; 
9) Seguir sempre as recomendações do Pediatra, que realmente sabe o que é melhor para a saúde do seu bebê.

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